24/05/2011 - 11h47
Celso Bejarano
Em Campo Grande
Um estudante do 8º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Campo Grande foi forçado a entregar ao menos R$ 1 mil a um ex-colega de sala da mesma idade por conta de seguidas ameaças de espancamento e até de morte. As ameaças já duravam um ano.
Além do dinheiro, o menino de 13 anos era obrigado a copiar atividades e fazer tarefas ao aluno agressor, informou a delegada Aline Finnott Lopes, chefe da Deaij (Delegacia de Atendimento a Infância e Juventude), que cuida do caso como extorsão.
Embora o episódio tenha sido divulgado somente nesta segunda (23), na quarta-feira passada a policial apreendeu o adolescente pegando R$ 50,00 da vítima num terminal de ônibus da cidade.
A delegada informou que a ocorrência pode ser tratada como bullying porque outros dois colegas do estudante também teriam tirado dinheiro do estudante mediante ameaça de morte. O bullyng, no entanto, não é tido como crime.
A violência em questão, segundo a delegada, começou no início do ano passado, quando os dois alunos estudavam na mesma classe. O acusado estuda hoje numa outra escola pública.
O garoto disse à delegada que no início das ameaças o colega exigia dele apenas que copiasse as atividades escritas pela professora e fizesse as tarefas, caso contrário poderia apanhar no fim das aulas. A delegada disse que investiga uma situação ocorrida no ano passado, quando o estudante teria sido surrado por desobedecer à imposição do colega.
“Com o passar dos dias o agressor exigiu dinheiro do estudante”, Aline Lopes. O menino pegava dinheiro dos pais, donos de um supermercado, e entregava ao colega sem revelar as ameaças a ninguém. “Ele tinha medo, daí o silêncio”, disse a delegada.
No meio do ano passado, as ameaças foram reveladas a direção da escola, mas a apuração não seguiu adiante porque o aluno agressor prometeu que não ia mais importunar o colega, segundo a delegada.
Mas isso não aconteceu. O estudante agredido continuou fazendo as tarefas e copiado as atividades escolares para o colega, sempre sob ameaças, incluindo de morte.
A mãe do menino soube do caso na semana passada por meio de uma colega da família. Alunos da mesma sala também sabiam das ameaças, mas temiam represálias, por isso teriam mantido o caso em segredo, segundo Aline Finott.
Os pais denunciaram o caso à polícia e a delegada disse ter feito uma campana por duas horas num terminal de ônibus. O agressor foi aprendido em flagrante logo que pegou o dinheiro. Antes, a mãe do menino ouviu o diálogo por telefone entre o filho e o agressor, que exigiu o dinheiro.
Levado para a delegacia, o menino disse que, com o dinheiro arrecadado consertava sua bicicleta. Ele negou a quantia calculada pela família da vítima. “Não foi tudo isso [R$ 1 mil], não”, respondeu o estudante, que confirmou as ameaças.
A mãe do agressor disse ter ficado surpresa com a atitude do filho e que nunca teria visto ele com dinheiro.
A delegada disse já ter concluído o inquérito e o mandado ao Ministério Público Estadual que deve se pronunciar acerca do caso ainda nesta semana.
Em São Paulo, um anteprojeto ainda debatido pode considerar a violência intencional contra alunos e colegas como crime. Se aprovado essa prática pode motivar uma pena de um a quatro anos de reclusão, mais pagamento de multa.
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